entre lianas troncos fortes sons à volta, pouco vejo mais que, desta clareira entre árvores, o céu. assim é que está certo: escondida até de deus!

terça-feira, maio 24, 2005

maldição



The Visionary Art of Boo Ehrsam



a terra é imparável como a vida

e há-de contar aos ventos e às águas

o nome maldito dos que roubam

do colo alheio o amor.

segunda-feira, maio 23, 2005


foto de



velhice vazia
solitários dias

que pensou a cabra?

- vou-me a roubar crias.

sexta-feira, maio 20, 2005


TREASURE ISLAND



fizeram de mim ilha:

é meu todo o azul!

segunda-feira, maio 09, 2005

p´ra quê escrever? ainda vem a Igreja maldizer...

sexta-feira, abril 22, 2005

aos 25 anos



in


carreguei sobre os ombros

um mundo maior do que eu sabia

dos livros todos de geografia



de tão vergada não viam os meus olhos

mais que o chão. até esqueci a Terra

é esta a hora de a voltar a saudar!

quarta-feira, abril 20, 2005

pastor pobre - pastor rico

naquela colina
havia um pastor
tinha lido uns livros
de Nosso Senhor
livros que contavam
como um Cristo
pobre
tocara leprosos
prostitutas novas
pescadores sem fé
olhara as mulheres
com respeito nobre
partindo depois

- façam em Meu nome!

o homem pensava:
alastram doenças
a guerra não para
homossexuais
são lepra de agora?
os preservativos
eram ante-cura
da sida maldita
da peste da hora
e o papa, o Pai
a pedra angular
da igreja criada
por Nosso Senhor
proíbe castiga
bem pouco perdoa...

pensava pensou
até chegar a hora
em que o encontraram
ainda a pensar
já estava com Cristo
no seu Santo altar.

-Bendito o que pensa
em mais do que em si.
Se tiveres dúvidas
perde-as aqui.

quinta-feira, abril 14, 2005

crime

image.guardian.co.uk



comi mochos quando era criança

é natural que me olhem de lado

ao ver-me aqui em espaço que é o seu.


"eu não queria. juro! era obrigada!"


quis agradecer. que má lembrança!

num gesto sem perdão e sem vingança

a bela ave voou, desapareceu.


"era para o apetite... a minha avó dizia..."


ao longe um piar agudo respondeu

e fiquei só com a minha agonia

já era de manhã ainda chorava eu.

quinta-feira, abril 07, 2005

canção do vento





wind peace



sou vento sou vento


ninguém me retrai

levo em rodopio

aquilo que cai

sou vento sou vento

tenho forte voz

as águas dos rios

quebro-as na foz

sou vento sou vento

não canso só corro

às vezes escondido

parece que morro

sou vento sou vento

bom filho do ar

tudo o que semeio

acaba a criar

sou vento sou vento

voo e limpo a terra

só falho o intento

de varrer a guerra

sou vento sou vento

que move marés

não vejo uma arma

cair aos meus pés

sou vento sou vento

e os homens da guerra

não sou eu que invento

vão matar a Terra.

quarta-feira, abril 06, 2005

até em deus...


in

desde o fundo do vale através da floresta subir é tarefa impossível

ou parece

que quando se sobe, o ser em nós sobe também respira flores brancas

como o sal sabedoria

e já todo o cansaço se tranforma numa força invisível que até no céu

e em deus confia.

segunda-feira, abril 04, 2005


musgo amarelo - Maurício Simonetti - fotoforma



mudei

tranfigurei-me

já fui verde

verde-musgo macio

hoje

forrei-me de outro

musgo amarelo

mais a convir

com trepadores

e frio.






bebo a água mais fresca e depurada

e à flor que ma oferece, agradeço

não lhe dizendo da outra água

que em muitos voos vejo - envenenada.

sexta-feira, abril 01, 2005


polar hug Photo By



para matar o sofrer na humanidade

tantas vezes bastava um só abraço.

farta de culpas e de queixas vãs

estendo os braços e não digo, faço.


in

abril, chega o degelo

está escuro ainda aqui

onde o sol entra breve

e pouco se demora

tenho um bom alibi

não são lágrimas

nesta mágica hora

são gotas que caem leve

vindas da cascata

sobre o meu rosto

sempre frontal

e sempre exposto

como o de um animal

olhando as crias

sem sair do seu posto.

quinta-feira, março 31, 2005

eco vazio

at akrepublicans.org


subi. subi o tempo todo até o topo quase


soltei o sonho e ele não voltou

falo alto recebo do eco a frase.


será mais pobre aquele que sonhou?

quarta-feira, março 30, 2005


Danheller

terra
mãe de tudo o que nasce verdadeiro
encontrei-o eu
mas foste ainda tu quem o viu nascer
crescer
e possessiva: quem o levou primeiro
aquele meu único poema a sangue feito
sem palavra
escrita ou dita por inexistente ser

aquele meu amor!

terça-feira, março 29, 2005

at ukonline.co.uk



inverso da pureza:

escondo-me de Deus

que assim o ensinaram:

os doentes!

segunda-feira, março 28, 2005




by karri

ressuscitou?

não sei. não vi como Tomé não viu.

sei que despertei e era manhã

mais luminosa que outra que já visse


manhã primordial!


ressuscitou?

vamos dizer que sim, porque era bom

corajoso amante do natural

da verdade do belo

da paz e das mulheres

como dos homens e dos animais.

ressuscitou?


claro que sim.

que lugar tinha na terra um homem como ele?

quarta-feira, março 23, 2005

as predadoras

at .wikimedia


sei um ninho mas não digo onde está

também eu tinha um. cansada adormecida

nem vi como chegaram junto a ele

as aves predadoras mais gordas tentadoras


deram às crias mais do que eu podia

e levaram do ninho o meu tesouro.

nesta páscoa não quero saber de ovos

nem que eles sejam de maciço ouro.

terça-feira, março 22, 2005




em


e quando o dia vai a meio

canso

tenho memórias de origens

no ar

urge um nenúfar fresco

manso

para bem junto à água

descansar


mas há aquela orquídea

subo

não poiso bebo sôfrega

de novo

parto para outro rumo

e mel cai

do meu canto leve leve

de semente

nasci para fertilizar?




segunda-feira, março 21, 2005

é primavera


in

meu único poema: "sabe melhor o beijo desta flor. "


será esta a verdadeira festa universal do amor

ou só o hino que a natureza entorna em meu redor?


in

lembrei-me de ti pai e atravessei a ponte
sem saber que me aguarda ou se caio ao passar
nem quem a fez ou a pisou primeiro
atravessei. só isso. tu sabes não podia ficar
neutra, no caminho onde se esconde
tanta vã glória tanta impunidade
pai, faltava-me o ar!

sexta-feira, março 18, 2005




in

na gruta onde me acoito estou segura


mais fortes animais cá descansaram

o medo antes de mim.

quinta-feira, março 17, 2005








deitada no chão nua de passado

olho para cima e chego a entender

por um longo instante

que se acredite em deus.


Yasumasa Hayashi

e à noite quando tento dormir e sei os predadores

à solta em meu redor

é que o amarelo das flores serve de vela acesa

e me alumia

fecho os olhos e então descanso as leves asas

até nascer o dia

quarta-feira, março 16, 2005

eu rio

greywolf.critter.net



quero ser rio

rio da minha própria floresta

rio de mim


separar o emaranhado de ramos

que no topo encobriam já o sol


quero ser rio

a separar amores de desamores


rio de regar fertilizar

não de deixar nas margens rastos

do lixo de cidades interiores


eu não sou da cidade

nunca fui nem serei


tantos mal entendidos a matar o amor!



não tenho tempo tenho de correr

tenho mesmo de ser rio

de águas fortes o rio de sempre

o rio que suportou tantos degelos

tantas secas infindáveis e duras


quero ser rio


afinal quero mesmo só

voltar a ser.

terça-feira, março 15, 2005

abraço-me



esquecida de mim
abraço o inferno
não tenho caminho
não tenho morada
nem país nem paz


nada apenas nada


abraço o inferno
tão bem conhecido
ponho água do mar
nas feridas abertas

é deus que não quer

dar-me as horas certas
ri-se às gargalhadas
relógio na mão
"compra um!" diz ele


e mal por mal eu:
abraço o inferno
que já era meu.

do alto vejo tudo estiquei-me a infinito
busco com o olhar de mãe o que perdi
está lá longe dentro de troncos ocos
de pérfidas árvores parasitas de mim

um dia cairei abatida por madeireiros
avaros de troncos como o meu, exóticos
e acabarei na sala absurda de alguém
oca eu então que vivi contra a maré

na ânsia única de vos deixar o mundo
melhor do que me deram ao plantar-me
em terra menos fértil mas que alguém
com mãos de paz sachou estrumou regou.



segunda-feira, março 14, 2005


no recomeço rasgo-me até à alma para encontrar terras e flores

primitivas.
Afrodite - Luigi Galligani

lembro ainda uma palavra

tinha a côr que me cerca

era a palavra toda verde que me deram

há muito tempo já


verde verde era o amor

sinestesias...

não as posso evitar.

ah, para quê evitar o que era só manhã

ensolarada?

sexta-feira, março 11, 2005

olho à volta encontro o que faltava
o branco que ninguém imaginou




queria ser a pedra que o contempla
de lá do tempo da sua eternidade.